sexta-feira, 14 de junho de 2013

Mais uma Situação de Aprendizagem com o texto "Pausa"

Por Selma Regina Monteiro Antunes

Texto: Pausa  Moacyr Scliar
 
Público alvo: 9ª ano
 
1) Discutir o título: o que aluno entende por pausa;
 
2) Realizar a leitura do texto identificando vocábulos desconhecidos e ideia central do texto;
 
3) Discutir com os alunos quais são as estratégias de pausa (importância do lazer);
 
4) Trabalhar concordância;
 
5) Trabalhar regionalismo, usando o vídeo "Negro Bonifácio" e trechos da H.Q. de Chico Bento;
 
6) Subsídios para crônica (apresentação das características);
 
6 a) Elaboração da crônica, dentro da visão que o aluno teve do texto (sugestões: pausa, valores morais, regionalismo, etc.);
 
6b) Socialização com troca de leitura, onde o aluno deve escrever o que achou do texto do colega;
 
6c) Após as observações do aluno eles deverão fazer a reescrita;
 
6d) Avaliação, devolutiva do professor.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Meu Primeiro Beijo - Antonio Barreto

É dificil acreditar, mas meu primeiro beijo foi num ônibus, na volta da escola. E sabem com quem? Com o Cultura Inútil! Pode? Até que foi legal. Nem eu nem ele sabíamos exatamente o que era "o beijo". Só de filme. Estávamos virgens nesse assunto, e morrendo de medo. Mas aprendemos. E foi assim...
Não sei se numa aula de Biologia ou de Química, o Culta tinha me mandado um dos seus milhares de bilhetinhos:
" Você é a glicose do meu metabolismo.
Te amo muito!
Paracelso"
E assinou com uma letrinha miúda: Paracelso. Paracelso era outro apelido dele. Assinou com letrinha tão minúscula que quase tive dó, tive pena, instinto maternal, coisas de mulher...E também não sei por que: resolvi dar uma chance pra ele, mesmo sem saber que tipo de lance ia rolar.
No dia seguinte, depois do inglês, pediu pra me acompanhar até em casa. No ônibus, veio com o seguinte papo:
- Um beijo pode deixar a gente exausto, sabia? - Fiz cara de desentendida.
Mas ele continuou:
- Dependendo do beijo, a gente põe em ação 29 músculos, consome cerca de 12 calorias e acelera o coração de 70 para 150 batidas por minuto. - Aí ele tomou coragem e pegou na minha mão. Mas continuou salivando seus perdigotos:
- A gente também gasta, na saliva, nada menos que 9 mg de água; 0,7 mg de albumina; 0,18 g de substâncias orgânica; 0,711 mg de matérias graxas; 0,45 mg de sais e pelo menos 250 bactérias...
Aí o bactéria falante aproximou o rosto do meu e, tremendo, tirou seus óculos, tirou os meus, e ficamos nos olhando, de pertinho. O bastante para que eu descobrisse que, sem os óculos, seus olhos eram bonitos e expressivos, azuis e brilhantes. E achei gostoso aquele calorzinho que envolvia o corpo da gente. Ele beijou a pontinha do meu nariz, fechei os olhos e senti sua respiração ofegante. Seus lábios tocaram os meus. Primeiro de leve, depois com mais força, e então nos abraçamos de bocas coladas, por alguns segundos.
E de reperente o ônibus já havia chegado no ponto final e já tínhamos transposto , juntos, o abismo do primeiro beijo.
Desci, cheguei em casa, nos beijamos de novo no portão do prédio, e aí ficamos apaixonados por vária semanas. Até que o mundo rolou, as luas vieram e voltaram, o tempo se esqueceu do tempo, as contas de telefone aumentaram, depois diminuíram...e foi ficando nisso. Normal. Que nem meu primeiro beijo. Mas foi inesquecível!
BARRETO, Antonio. Meu primeiro beijo. Balada do primeiro amor. São Paulo: FTD, 1977. p. 134-6.


Poema para trabalhar a intertextualidade com "Meu primeiro beijo"

Dúvidas

Às vezes
eu sinto que ela quer.
Outras vezes
eu acho que não.
Ah, como grita
o meu peito...
Cala a boca,
Coração!
Ela não pode
desconfiar
que este vai ser
o meu primeiro...

Sufoco de vergonha
e da falta de jeito.
E agora, meu Deus?
O que é que eu faço
com as mãos
Às vezes
eu sinto que ela quer.
Outras vezes
eu acho que não.
Beijo ou não beijo...
eis a questão.
(Carlos Queiroz Telles
 )


SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM: TEXTO “MEU PRIMEIRO BEIJO” – Antônio Barreto



Público alvo: 8º ano

01.  Leitura compartilhada

02.  Por que a menina chama o menino de “Cultura Inútil”? Por que os apelidos “O Culta”, “ Para Celso”? – Vocabulário (inferência local)

03.  Após o primeiro beijo o relacionamento durou muito ou pouco? Justifique com uma passagem do texto (Inferência Global)

04.  Discussão: contexto de produção

05.  Intertextualidade: música Eduardo e Mônica do Legião Urbana; e o poema “Dúvidas” de Carlos Queiroz Telles;

Interdiscursividade: Trabalhar com as diferentes linguagens entre o menino e a menina apresentadas no decorrer do texto.

06.  Recontar a história por meio de recorte e cole.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

PAUSA - Moacyr Scliar.

Pausa
"Às sete horas o despertador tocou. Samuel saltou da cama, correu para o banheiro, fez a barba e lavou-se. Vestiu­se rapidamente e sem ruído. Estava na cozinha, preparando sanduíches, quando a mulher apareceu, bocejando:
—Vais sair de novo, Samuel?
Fez que sim com a cabeça. Embora jovem, tinha a fronte calva; mas as sobrancelhas eram espessas, a barba, embora recém­feita, deixava ainda no rosto uma sombra azulada. O conjunto era uma máscara escura.
— Todos os domingos tu sais cedo — observou a mulher com azedume na voz.
— Temos muito trabalho no escritório — disse o marido, secamente. Ela olhou os sanduíches:
—Por que não vens almoçar?
— Já te disse: muito trabalho. Não há tempo. Levo um lanche. A mulher coçava a axila esquerda. Antes que voltasse à carga, Samuel pegou o chapéu:
—Volto de noite.
As ruas ainda estavam úmidas de cerração. Samuel tirou o carro da garagem. Guiava vagarosamente, ao longo do cais, olhando os guindastes,as barcaças atracadas.
Estacionou o carro numa travessa quieta. Com o pacote de sanduíches debaixo do braço, caminhou apressadamente duas quadras.
Deteve­se ao chegar a um hotel pequeno e sujo. Olhou para os lados e entrou furtivamente. Bateu com as chaves do carro no balcão, acordando um homenzinho que dormia sentado numa poltrona rasgada. Era o gerente. Esfregando os olhos, pôs­se de pé.
—Ah! Seu Isidoro! Chegou mais cedo hoje. Friozinho bom este, não é? A gente...
—Estou com pressa, seu Raul!— atalhou Samuel.
— Está bem, não vou atrapalhar. O de sempre. — Estendeu a chave. Samuel subiu quatro  lanços de uma escada vacilante.
Ao chegar ao último andar, duas mulheres gordas, de chambre floreado, olharam­no com curiosidade:
—Aqui,meu bem!—uma gritou, e riu: um cacarejo curto.
Ofegante, Samuel entrou no quarto e fechou a porta à chave.
Era um aposento pequeno: uma cama de casal, um guarda­roupa de pinho; a um canto, uma bacia cheia d'água, sobre um tripé. Samuel correu as cortinas esfarrapadas, tirou do bolso um despertador de viagem, deu corda e colocou­o na mesinha de cabeceira.
Puxou a colcha e examinou os lençóis com o cenho franzido;  com um suspiro, tirou o casaco e os sapatos, afrouxou a gravata. Sentado na cama, comeu vorazmente quatro sanduíches. Limpou os dedos no papel de embrulho, deitou­se e fechou os olhos.
Dormir.
Em pouco, dormia. Lá embaixo, a cidade começava a mover­se: os automóveis buzinando, os jornaleiros gritando, os sons longínquos. Um raio de sol filtrou­se pela cortina, estampou um círculo luminoso no chão carcomido. Samuel dormia; sonhava. Nu, corria por uma planície imensa, perseguido por índio montado a cavalo. No quarto abafado ressoava o galope. No planalto da testa, nas colinas do ventre, no vale entre as pernas, corriam. Samuel mexia­se e resmungava. Às duas e meia da tarde sentiu uma dor lancinante nas costas. Sentou­se na cama, os olhos esbugalhados: o índio acabava de trespassá­lo com a lança. Esvaindo­se em sangue, molhado de suor, Samuel tombou lentamente; ouviu o apito soturno de um vapor. Depois,silêncio. Às sete horas o despertador tocou. Samuel saltou da cama, correu para a bacia, lavou­se. Vestiu­se rapidamente e saiu. Sentado numa poltrona, o gerente lia uma revista.
—Já vai, seu Isidoro?
— Já — disse Samuel, entregando a chave. Pagou, conferiu o troco em silêncio.
—Até domingo que vem, seu Isidoro — disse o gerente.
—Não sei se virei—respondeu Samuel, olhando pela porta; a noite caía.
— O senhor diz isto, mas volta sempre — observou o homem, rindo. Samuel saiu.
Ao longo do cais, guiava lentamente. Parou, um instante, ficou olhando os guindastes recortados contra o céu avermelhado. Depois, seguiu. Para casa."


SCLIAR, Moacyr. In:BOSI, Alfredo. O conto brasileiro contemporâneo. SãoPaulo: Cutrix,1997

Situação de Aprendizagem - PAUSA - Moacyr Scliar

PAUSA
Moacyr Scliar
Público alvo: 7ºs e 8ºs anos.

Situação de Aprendizagem:

1-    Questionar o título.
2-    Leitura feita pelo professor instigando o aluno a levantar hipóteses (neste momento, os alunos não têm acesso ao texto).
3-    Inferências:
 Ÿ Que trabalho é este que necessita ser feito aos domingos?
 Ÿ Samuel é funcionário ou patrão?
 Ÿ Por que ele estaciona o carro duas quadras distantes?
 Ÿ O que percebemos com a frase do gerente “Chegou mais cedo hoje”?
 Ÿ Que mulheres são estas que o convidam a entrar no quarto?
 Ÿ O gerente o chama de Isidoro, por quê?
4-    Variações diacrônicas: Localizar informações que comprovem que o texto não faz parte do nosso cotidiano.
 Ÿ “despertador de viagem, deu corda”
 Ÿ “jornaleiro gritando”
5-     Localizar trechos que comprovem o tempo cronológico:
 Ÿ “as ruas úmidas de cerração”
 Ÿ “às duas e meia da tarde”
 Ÿ “Às sete horas o despertador tocou”
6-    Intertextualidade: Solicitar aos alunos que levem músicas que tenham domingo como tema. Exemplos:
Ÿ Domingo no parque, de Gilberto Gil
Ÿ Ouro de Tolo, de Raul Seixas
7-    Percepção de outras linguagem:
Ÿ Metáforas: “no planalto da testa”, “nas colinas do ventre”
8-    Sensibilização: em uma cartolina, cada aluno escreve uma palavra que o remeta a pausa.
9-    Uma das principais características da crônica é a observação do comportamento humano. O que podemos observar sobre o comportamento de Samuel?
 Ÿ Promover um debate sobre: ética no casamento, individualidade, felicidade, sinceridade, etc.
10-  Biografia: Fazer a pesquisa e questionar se o uso da segunda-pessoa tem algo relacionado a naturalidade do autor.
11-  Produção de texto:
Sugerimos dois temas (dentre vários outros possíveis), porém dependerá do que o professor prefira enfatizar:
           Ÿ “Um dia de domingo”
           Ÿ “Minha pausa”

       Atividade elaborada no encontro presencial pelas professoras: Irene W. Donatelli, Lúcia Helena, Simone Loner e Viviane Cardoso.